A maconha possui uma vasta história no Brasil, marcada por inúmeros plot-twists. A planta exótica e não natural do território nativo já foi comercializada em larga escala pelos “boticários” (antigas farmácias), popularizada em portos e lojas, e até mesmo utilizada pela família imperial! O fato é que a nossa erva sempre esteve presente em nossa história e cultura. Mas afinal, se a planta não é daqui, como foi que a maconha chegou ao Brasil?
Por mais que neguem os anais da história (com toda a propriedade da palavra), a maconha está intrinsecamente ligada à construção da nossa idade cultural, histórica e popular.
Ela é uma das vastas heranças com raízes africanas, e foi trazida junto com as primeiras levas de tráfico escravocrata. E justamente como tudo que remete aos territórios e culturas africanas, ela também é reprimida e criminalizada até hoje.
A maconha veio não só como fumo, mas também como materiais têxteis extraídos do
cânhamo, remédios, entre outros.
Para ser mais específica, a maconha chegou ao Brasil entre o período de 1500 e 1550, tanto presente nas caravelas como subproduto do cânhamo como quanto próprio fumo e sementes, sendo contrabandeada pelos próprios cativos. Segue a declaração documentada pelo nosso Ministério de Relações Exteriores, no ano de 1959:
“A planta teria sido introduzida em nossos país, a partir de 1549, pelos negros escravos, como alude Pedro Corrêa, e as sementes de cânhamo eram trazidas em bonecas de pano, amarradas nas pontas das tangas” (Pedro Rosado).
A planta servia de alívio para aqueles que vivenciavam a dor da escravidão, mas também se popularizou em inúmeros herbários e boticários, sendo desde cedo reconhecida e apreciada pelo seu valor medicinal. Curioso, não? Na verdade, nem tanto!
Aos poucos, a maconha foi ganhando terreno, e foram os povos indígenas que, ao ter contato com a planta, exploraram cada vez mais seu potencial medicinal. Com o tempo o fumo foi sendo disseminado no comércio como “cigarro índio”, e por isso hoje temos a tão conhecida alegoria do “cachimbo da paz”.
Quando a maconha chegou ao Brasil, ela era utilizada na forma de fumo principalmente pelas classes socioeconômicas menos favorecidas, mas logo seu uso se disseminou e foi parar até na realeza! Reza a lenda que a rainha Carlota Joaquina tinha como hábito o consumo de chá de maconha quase todas as tardes.
E assim foi: a maconha, conhecida por vários nomes, entre eles “pito d’Angola”, diamba, pito do pango, etc, foi utilizada comumente e vista com normalidade até o ano de 1830, quando houve o início do movimento proibicionista.
A razão das primeiras proibições é que, não a sociedade, mas a elite que possuía pessoas escravizadas, enxergava o fumo do “pito do pango” como uma distração ao trabalho nas lavouras, e por isso as primeiras penas começaram a ser fixadas. Mas foi só mesmo cem anos depois, em 1930, que o Brasil iniciou uma política formal e agressiva de proibição.
O nome do vacilão é Pernambuco Filho (mas calma, ele também não tem nada a ver com o estado ok?), e ele foi responsável por iniciar o movimento proibicionista da guerra às drogas no país.
Com fortes motivações xenofóbicas, Pernambuco Filho plantou a sementinha da guerra às drogas no Brasil, e finalmente, em 1938, ele conquistou o Decreto-Lei nº 891 do Governo Federal.
O proibicionismo decretou, principalmente:
Nesse meio tempo, entre os anos 30 e quarenta aqui no Brasil, houveram inúmeros encarceramentos e ações ostensivas contra os usuários no Brasil, especialmente contra a população negra e as classes mais desfavorecidas da nossa sociedade.
Esse é um dos exemplos de repressão denso e complexo, e por isso, nós trataremos sobre ele no próximo texto da Smoke Point com a riqueza de detalhes que você merece.
Mas um fato é inegável: desde quando a maconha chegou ao Brasil, há quase 500 anos atrás, que ela tem sido um hábito, um remédio e um costume nacional. Hoje contamos com cerca de 3 milhões de usuários em todo o território nacional, enquanto
8 milhões de pessoas já utilizaram a droga pelo menos uma vez na vida, segundo dados oficiais do INPAD.
São quase 100 anos de proibição, o que vem causando mortes, violência e criminalidade, mas na prática, o uso e o comércio da maconha continua. Por que então não legalizar?
PS: se você quiser se aprofundar um pouco mais na
história da maconha no Brasil, recomendamos para você este artigo científico. Foi dele que tiramos e comparamos muitas informações oficiais!
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