O ano de 2021 está acabando, o Natal está chegando e o nosso presente foi esse: mais mortes, mais dinheiro público gasto no enfrentamento às drogas e surpreendentemente, nada de melhor acontecendo por causa disso.
Não maconheiro, a gente não morreu antes do Natal, como várias vezes a gente já ouviu da boca do nosso
queridíssimo Sikera Junior, mas graças à criminalização das drogas,
muita gente
não teve a mesma sorte.
Esse pode ser o seu destino se você for negro, pobre e morar na periferia, afinal, dá sim para afirmar que esse é o perfil preferido da Polícia Militar aqui no Brasil. Mais uma característica da
guerra às drogas: ela é racista e classista.
Se você pesquisar no Google exatamente os mesmos termos que eu, “mortes ligadas à guerra às drogas no Brasil em 2021”, você vai ter muita dificuldade em achar esse número.
O IPEA, Instituto de Política Econômica Aplicada - órgão governamental, por exemplo, traz o chamado
Atlas da Violência, mas em nenhuma de suas estatísticas fala diretamente sobre o tema. Isso é conveniente, afinal, em um Estado com uma política de extermínio tão forte, não “pega bem” falar sobre isso.
Mas na prática, a gente consegue saber que os assassinatos cresceram e muito: só no primeiro semestre de 2021,
na região Norte do país, houve um aumento de mais ou menos 40% do número de mortes.
Essa mesma fonte acima diz que houve uma “queda” em relação ao número geral no Brasil, que registrou em dados aproximados 21.042 mortes violentas no país. Mas falar em “queda” é fácil quando 2020 foi um dos anos mais violentos para nós.
Não é de se espantar. Afinal, de acordo com o primeiro índice Global de Políticas Sobre Drogas, ranking inédito instaurado pelo Harm Reduction Consortium,
o Brasil tem a pior política relacionada a drogas no mundo.
Em uma comparação entre 30 países, estamos em último, atrás de países que explicitamente declaram pena de morte para pessoas que se envolvem com drogas.
Não é necessário que se formalize a pena de morte aqui, afinal, com uma política mais focada em reprimir do que cuidar da saúde pública, já se treina para matar.
Se engana quem fala que a culpa da existência do tráfico é do usuário, ou ainda, “quem usa sustenta o tráfico”. O tráfico de drogas só existe porque existe a criminalização.
Afinal, não foi escolha de quem compra que a maconha, por exemplo, fosse ilegal. Ninguém gosta de se arriscar para ir em um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas e que você não tem certeza que pode confiar para comprar um
prensado ridiculamente ruim.
Ninguém gosta de ter que vender para poder considerar se vai comer ou não no dia que passou, perder pessoas queridas e viver com o medo da morte.
Essa foi uma decisão tomada única e lateralmente
pelo próprio Estado.
Quem dera se rezar ou torcer resolvesse o problema, afinal, ele parte de uma estrutura complexa, que visa enriquecer alguns poucos e matar outros vários.
O jeito mais “fácil” de lidar com isso é, em primeiro lugar, abrindo o olho. Enxergue quem está do seu lado e luta pelas suas causas. Saiba em quem você vai votar. Cobre. Faça. Não basta apenas saber que algo está errado: se você quer ter o direito de consumir com segurança, é preciso agir!
Por isso, não desista de falar sobre o assunto da
descriminalização das drogas
(em especial, a maconha) com quem você acha que precisa saber. Um jeito fácil, por exemplo, é simplesmente compartilhar esse texto. A mudança vem aos poucos, mas é preciso que a gente queira lutar.
Mas calma lá, não significa que é bagunça, dedo no cu e gritaria. É sobre regular, fiscaliza e, acima de tudo, evitar que mais gente morra atoa. Faça a sua parte!
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